1 de junho de 2002
Entrevista sobre novos CDs
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IMPRENSA
Entrevista com Flávio Fonseca,
sobre o lançamento simultâneo de três novos CDs para o mercado esperantista,
publicada na revista Brazila Esperantisto.
Tradução abaixo.
(Clique para ampliar)
Tradução:
O músico brasileiro Flávio Fonseca, sempre cheio de ideias musicais, lançará durante o Congresso Universal de Esperanto deste ano três CDs!
Para que saibamos mais sobre ele e sua produção, o redator Fabrício Valle o entrevistou:
Fabrício Valle – Você está lançando ao mesmo tempo três discos: Simbiozo, La Korvo e Tom Jobim en Esperanto. Como você consegue tal produção em massa?
Flávio Fonseca – Bom, na verdade não se trata de nenhum malabarismo. Ao todo eu passei dois anos compondo, gravando, etc, e no fim os lançamentos coincidiram.
FV – Fale sobre Simbiozo.
FF – Este é um antigo sonho que se realiza. Escolhi poemas da rica obra do brasileiro Geraldo Mattos – famoso poeta, linguista, e presidente da Academia de Esperanto –, e os musiquei. Além disso, ele escreveu especialmente para o disco a letra Jam temp’ está por verdera’, que é um samba enredo.
FV – Samba enredo?
FF – Sim, com tudo que merece esse estilo: bateria de escola de samba sampleada, cavaquinho acústico tocado por um especialista, o experiente Evandro Barcellos, etc. E esta não é a única surpresa do disco: há um choro, outro estilo típico brasileiro, com participação do bandolinista Jorge Cardoso, há bossa nova, jazz, new age, até um tecno!
FV – Mas assim não será mais surpresa... (risos)
FF – Não importa, a verdadeira surpresa será a audição. E eu posso acrescentar, que para a faixa tecno eu me inspirei nos artistas Solotronik e Gunnar, e também há uma com um arranjo simples, violão/flauta doce/voz, na qual eu procurei refletir o estilo de Ĵomart e Nataŝa.
FV – Então o disco ficou verdadeiramente internacional!
FF – Não foi minha intenção. Na verdade, o disco está bem brasileiro, com muita inevitável influência da música brasileira, mas com a capacidade de visão internacional que o esperanto nos dá. Ah, e eu tenho que contar: na canção 5ª Soneto por Nejma, o pianista brasileiro Eugênio Matos participou, mas ele estava nos Estados Unidos quando eu precisei dele. Então, nós usamos os recursos da moderna tecnologia: Enviei a base gravada a ele pela internet, com explicações sobre o estilo desejado para o piano. Lá em Los Angeles ele gravou lindamente o piano, e me devolveu também pela internet.
FV – Agora vamos falar sobre La Korvo.
FF – Esta é uma homenagem a um dos melhores tradutores esperantistas do mundo: o brasileiro Leopoldo Knoedt, falecido ano passado. Há muito tempo ele gravou em estúdio três poemas traduzidos por ele, com bela voz e interpretação emocionada, e Iracema, então sua esposa, gravou um quarto poema. Esta fita ficou anos nas prateleiras da Liga Brasileira de Esperanto. Finalmente, veio a ideia: por que não compor uma música de fundo, e lançar em CD?
FV – Naturalmente...
FF – Sim, e esta foi minha prazerosa tarefa: ouvindo sua declamação, compus a música que acompanha o texto. Às vezes meio nova era, às vezes “música descritiva”, às vezes puro sentimento. Espero que a música ajude as pessoas a viajar pela voz de Leopoldo, como eu fiz.
FV – E Tom Jobim en Esperanto?
FF – Este projeto nasceu durante a visita que recebi do argentino Alejandro Cossavella. Ele, você sabe, também é músico, fundador da banda de rock La Porkoj. Uma vez, durante uma das muitas vezes em que tocamos e cantamos juntos em casa, alguém – já não me lembro qual de nós – perguntou ao outro: por que não fazemos um disco juntos? Passar ao nome de Jobim foi fácil, pois ambos gostamos da música dele.
FV – E por que o nome Brazila Kolekto (Coleção Brasileira)?
FF – Porque a ideia é mesmo fazer uma coleção. Tom Jobim é o primeiro, mas nós já planejamos volumes com músicas de outros artistas brasileiros, como talvez Chico Buarque, Caetano Veloso, e outros.
FV – E os seus projetos não-esperantistas?
FF – Hum, há muitos. Planejo em breve produzir meu novo CD, com o grupo Cor das Cordas – você o ouviu em nosso show no Congresso Brasileiro de Esperanto, ano passado. Ele é um octeto de cordas mais um percussionista, que toca todo tipo de música.
FV – Vai ter música em esperanto neste CD?
FF – Naturalmente! Eu sempre incluo músicas em esperanto em meus discos e shows em português.
FV – E novos shows?
FF – Sim, com a banda que me acompanhará em Fortaleza, em várias cidades.
FV – E você produz também discos de outros artistas, não é?
FF – Sim, do meu estúdio sai cerca de um disco a cada dois meses. Não em esperanto, naturalmente. Mas, sempre que possível, sugiro a colocação na capa de uma frase em esperanto: farita en Brazilo (feito no Brasil)...
FV – Flávio, por que e como você se tornou esperantista?
FF – Você sabe a resposta... (risos)
FV – Sim, mas pra revista...
FF – Bom, eu sou neto de Délio Pereira de Souza, e sobrinho-neto de Nelson. Délio é presidente da Sociedade Lorenz (uma editora esperantista), e Nelson, já falecido, foi presidente da Liga Brasileira de Esperanto. Então, eu costumava ouvir esperanto em casa, dos familiares, embora eu não seja falante desde o nascimento. Um dia, eu já estava na universidade e fazia shows aqui e ali, quando raciocinei: o esperanto é bonito; posso usá-lo na minha música, e ainda divulgar o meu trabalho para o exterior! Então, me inscrevi num curso, e meu tio Nelson foi meu primeiro professor.
FV – Quando isso aconteceu?
FF – Em 1980.
FV – Você falou sobre universidade; o que você estudou?
FF – Música, é claro! Na UnB (Universidade de Brasília).
FV – E você sempre trabalhou só com música?
FF – Sim. Já dei aula em faculdade, há muito tempo toquei em bares, mas meu trabalho principal sempre foi compor, arranjar e fazer shows. Atualmente componho pra teatro, espetáculos de dança, cinema, além das produções em meu estúdio.
FV – E no meio esperantista?
FF – O trabalho musical em esperanto?
FV – Isso.
FF – Bom, fiz shows em vários congressos nacionais e internacionais...
FV – Quais?
FF – Praga, Cuba, KEF (Festival de Cultura em Esperanto) em Copenhagen, congresso da SAT (Associação dos Trabalhadores Esperantistas) em Campos do Jordão (Brasil)... entre os nacionais, Natal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro... talvez eu tenha esquecido algum... e muitos encontros regionais e eventos menores. E eu lancei diversos álbuns em esperanto: o compacto duplo em vinil Flávio Fonseca en Esperanto, o K7 Aaron Brazilumas Esperante, o K7 Aerlumo, que é versão de um disco bem sucedido em português, com orquestra e tudo mais, e participei das duas coletâneas da gravadora francesa Vinilkosmo (da primeira como compositor, da segunda como arranjador). Além das músicas em esperanto incluídas em discos em português. E fui premiado no Belartaj Konkursoj (concurso internacional promovido pela Associação Universal de Esperanto – sede na Holanda) três vezes: primeiro lugar em 93, segundo em 97, e duas menções honrosas em 98.
FV – Fale sobre o show que você fará no Congresso Universal de Esperanto em Fortaleza.
FF – O repertório, naturalmente, será baseado no novo disco, Simbiozo. Mas cantarei também algumas outras, de outros discos.
FV – O show será todo em esperanto?
FF – É claro, como deve ser num evento internacional. Cantarei e falarei só em esperanto.
FV – E a banda?
FF – Estarão comigo três músicos: Daniel Baker, tecladista, Rômulo Duarte, baixista, e Bruno Lucini, baterista e percussionista. E eu tocarei violão.
FV – Os músicos também falam esperanto?
FF – Não, eles não são esperantistas. Infelizmente, é difícil encontrar esperantistas entre músicos profissionais, ao menos em minha cidade. Mas certamente esses shows são boa propaganda para eles. Nos ensaios, eles frequentemente me perguntam detalhes sobre a língua, o movimento, até decoram algumas frases...
FV – Para terminar a entrevista, você quer deixar alguma mensagem para os leitores?
FF – Usem o esperanto. Esta é a melhor propaganda. Usem na sua especialidade, na sua profissão, usem! E, se vocês estiverem em Fortaleza, não percam o meu show! (risos)
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